Eu era uma pequena criança que
nada mais tinha a não ser o seu sorriso, a sua felicidade e uma doença que
atrasava a pessoa que amava, quando íamos em visitas de estudo com os nossos
amigos e professores. Vivia na cidade, até aquele dia, em que a notícia se
espalhou. Ele tinha matado a sua família e eu não sabia o porquê…
Frustrada, não sabia o que fazer,
corri em direção á floresta e procurei-o. Gritei o seu nome, imensas vezes, mas
ele não me respondia. Deixei-me cair de joelhos no chão e parei as lágrimas,
mesmo antes de estas caírem. Que iria fazer sem ele…?
-És a única pessoa que me
compreende…
Disse, baixo e quase sem voz.
Fiquei assim imóvel, por duas horas, debaixo da chuva grossa que entretanto
começou a cair. Não queria acreditar, ele tinha matado aqueles que mais amava.
Não o compreendia, nem sabia o que teria acontecido para ele fazer aquilo. A
cabeça começou a pesar e o corpo a ficar sem força. Tudo começou a ficar
desfocado e a minha vida mais curta, cai para o lado, mas algo molhado e
quente, agarrou o meu corpo ensopado. Dizia o meu nome, chamava por mim. Mas eu
não lhe conseguia responder, estava sem forças…e depois de tanto o chamar, já
nem lhe queria responder.
Pegou em mim e levou-me para um
sítio qualquer. Parecia uma gruta, deitou-me numa cama improvisada e acendeu
uma pequena fogueira. Murmurava pragas e perguntava-se vezes sem conta o porquê
de eu ter ficado debaixo daquela chuva mesmo sabendo a doença que eu tinha.
Falei-lhe naquele momento,
expressando aquilo que senti-a por ele. “Amo-te e desculpa por sempre te
atrasar…”
Foram as minhas últimas palavras
naquela noite e para o todo sempre como humana, no outro dia ao amanhecer. Ele
abanava o meu corpo imóvel e sem forças. Estava frio e parecia sem vida, pois
sim…eu não estava mais ali. Eu tinha morrido, devido ao seu egoísmo. “Porque é
que não me levaste contigo?”. Perguntei-lhe, mas ele não podia ouvir.
Eu não passava de mais um
espírito que vagueava como muitos outros na terra. Vítima de desgostos e
doenças, mas eu não serei como muitos outros que seguem a luz e encontram a
paz.
A minha paz está junto dele…junto daquele que
amo.